«Existem, em Portugal, neste momento, muitos escritores maiores.
»Os meus dois escritores portugueses predilectos de hoje, com alguma subjectividade contida, certamente, num juízo deste tipo, não poderiam ser mais antitéticos.
»Um deles é Gonçalo M. Tavares. M. Tavares é agora um escritor reconhecido e premiado, porventura o único capaz de viver unicamente do seu labor literário, traduzido em muitas línguas, expandido-se por géneros diversos, do romance à poesia ou ao conto, inovando sempre, acertando sempre no inesperado, rearranjando e confundindo os modelos, experimentando a mão esquerda, quando a direita principia a ganhar tiques e seguir rotinas.
O outro é, como o próprio gosta de dizer de si, um cisne negro: desconhecido, sem prémios, sem editora nem distribuidora, nem entrevistas senão as que ele mesmo, esforçada e artesanalmente, dá a "entrevistadores" amigos e anónimos, e com a maior parte da sua obra permanecendo inédita. Chama-se Gil Duarte e, com a excepção já referida de Gonçalo Tavares, não conheço nenhum outro que alie assim a cultura e a elegância de estilo, ao ritmo quase alucinante da história. Dir-se-ia que o facto de Gil Duarte (na verdade, José Pacheco) ser neto de um saudoso amigo meu, tem alguma coisa que ver com o meu encantamento. Não creio. Os raros e privilegiados leitores que tiveram oportunidade de ler o seu único romance publicado, uma perturbadora estória intitulada Nada Mais e o Ciúme, sabem a que me refiro. A intensidade dos sentimentos que se não compreendem mutuamente, a beleza de toda a escrita que, em certas páginas, atinge o ar de montanha que é próprio dos cumes da literatura portuguesa, ou a incómoda ironia latente nas observações do narrador fazem deste único livro, escrito e publicado por Gil Duarte, um momento único - e, na minha óptica, incompreendido e desprezado por aqueles potenciais leitores que, passando-lhe mesmo ao lado, se desviam com um desinteresse e uma indiferença que resume o funcionamento do leitor português, pouco criativo e com pouco iniciativa, à espera de indiscutíveis referências que sinalizem, sem incertezas, o caminho para o que "merece ser lido" -, uma obra maior da literatura contemporânea portuguesa, menormente recebida.
»O romance de Gil Duarte de que mais gosto, contudo, é um romance que possivelmente ele nem terá coragem de publicar. Li-o duas vezes, percebo o seu medo. Talvez um dia o veja nas livrarias, mas desconfio da inércia do leitor português.
»Entretanto, é claro, Nada Mais e o Ciúme anda por aí. Imenso, magnífico: faz-me impressão que as pessoas não façam a mínima ideia do que andam a perder...»
Padre Joaquim Bernardes
nada mais e o ciúme (o blogue)
domingo, 12 de junho de 2011
quinta-feira, 31 de março de 2011
Divulgação
Inauguro aqui um blogue única, total e exclusivamente dedicado à divulgação do meu romance, Nada Mais e o Ciúme. Vamos lá ver!
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